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Documentos

(exigidos por lei)
Para a remoção do corpo do local de falecimento
- RG, RNE ou certidão de nascimento.
- CPF
- Declaração de Óbito
- Ketubá (contrato judaico de casamento) ou documento de conversão com identificação do Rabino e/ou instituição (sob avaliação)
Para sepultamento
- RG, RNE ou certidão de nascimento (originais)
- Declaração de Óbito - duas vias originais entregues pelo hospital - amarela registro civil e branca - secretaria de saúde)
- CPF ou número constante no documento de identificação
- Certidão de Casamento (se casado no Brasil)
- Título de eleitor - documento ou informação do número, zona e seção
- Cartão de aposentadoria e/ou número do benefício do INSS dos benefícios recebidos

BREVE RESUMO DAS LEIS DE LUTO JUDAICAS

O judaísmo tem regras e costumes
para se despedir de um ente querido

Morte e luto

“Segundo o pensamento judaico, a morte não é o fim, senão o princípio. O judaísmo considera este mundo um corredor, uma preparação para o Mundo Vindouro. Este mundo futuro não pode ser compreendido plenamente enquanto a mente do homem seguir limitada a seus conceitos físicos. Não obstante, o homem pode supor que, nessa existência, as almas nobres prosperam.

Em consequência, os judeus veem a morte com tristeza, mas não com aflição. Sentem como uma enorme perda a morte dos seres amados, e se preocupam pelo fato de seus pecados poderem fazê-Ios merecedores de um castigo futuro. Sem dúvida, encontram consolo no fato de que a morte não significa o fim de uma pessoa. Sentem alívio ao pensar que, aqueles que sofrem por causa de uma doença encontrarão a paz.”1

“Porém, quanto mais valorosa uma pessoa, maior a sua perda aos sobreviventes. Quanto mais havia significado para sua família, seus amigos e sua comunidade, mais profunda a dor e mais aguda a angústia.

As observâncias tradicionais judaicas, relativas à morte e ao luto, têm por objetivo prestigiar a pessoa falecida e confortar os enlutados.”2

Sobre quem se observa o luto
    Os sete parentes pelos quais homens e mulheres devem observar as leis de luto são:
  • Pai e mãe
  • Filho e filha
  • Irmão e irmã (por parte de pai ou mãe)
  • Esposo/esposa3

Um bebê – não haverá luto no caso deste morrer até o 30º dia (inclusive).4 Caso o bebê tenha passado alguns dias na incubadora após seu nascimento, a contagem dos 30 dias terá início a partir do dia que sair da incubadora. Falecendo antes disso, o bebê será considerado prematuro, e não haverá luto. Em qualquer hipótese, fetos e abortos também têm a sua santidade e devem ser sepultados, mesmo que não se guarde luto por eles.

Antes do falecimento

O judaísmo considera uma pessoa morta somente quando seu coração e cérebro cessaram completamente de funcionar. Antes disso, ela é considerada viva, mesmo estando agonizante ou em estado de coma. Nada pode ser feito para apressar o seu fim (eutanásia); pelo contrário, deve-se fazer todas as tentativas médicas possíveis para mantê-Ia viva e salvá-Ia.

É considerado um ato de extrema caridade permanecer junto a uma pessoa nessas condições, não permitindo que ela deixe este mundo estando sozinha. Não obstante, não se deve ficar parado atrás de sua cabeça e nem ao lado de seus pés, e deve-se atentar para que todo o corpo da pessoa esteja sobre a cama. E proibido tocar em um moribundo (Gossês).

Amigos ou familiares que não conseguem controlar o choro devem ser retirados do recinto e aguardar no lado de fora. Um Cohen5 não deve ficar nesse recinto.

Costuma-se rezar junto ao leito para dar consolo espiritual àquele que está prestes a partir, no caso de ainda ser capaz de ouvir as palavras sagradas6; ou como um “acompanhamento” para a alma que se separa do corpo, no caso em que já tiver perdido a consciência.

Após o falecimento

Constatado com certeza o óbito, deve-se abrir as janelas do quarto e cobrir-se o rosto do falecido com um pano branco. Depois de 20 minutos, tira-se-Ihe a roupa, assim como os adornos (por exemplo: anéis, aliança, pulseira, relógio, brincos, colar, óculos e peruca), cobrindo-o totalmente com um lençol branco, e coloca-se cuidadosamente o corpo no chão, com os pés em direção à porta. Em seguida, deve-se fechar seus olhos e sua boca, endireitar seus pés e suas mãos, colocar algo sob sua cabeça, de tal forma que fique num nível levemente superior ao resto do corpo, e acender duas velas próximo à sua cabeça.

A Chevra Kadisha deve ser contatada imediatamente para as devidas providências, como cuidados do corpo, sua lavagem (Tahará) e preparação para o enterro, aquisição do devido caixão, documentação e procedimentos legais, velório e o próprio enterro.

Existem situações em que deve-se chamar a Chevra Kadisha, com urgência, para evitar, por exemplo, que o corpo seja levado contra a vontade ao IML.

O corpo não deve ficar sozinho em hipótese nenhuma, de dia ou de noite, e ninguém deve comer, beber ou fumar no recinto em que ele se encontrar. Se o corpo estiver numa geladeira, basta ficar na sala contígua.

Em hospitais, deve-se ficar atento aos diferentes procedimentos e exigir o devido respeito com relação ao corpo e às crenças religiosas do falecido.

Quando um falecimento ocorre numa residência, e não faz diferença a religião do morto, costuma-se esvaziar as águas existentes nos recipientes7 da casa onde se encontra o morto e das duas casas vizinhas de cada um dos lados. Com isto dá-se a saber do falecimento e da passagem pela vizinhança do “anjo da morte”.

Em prédios de um apartamento por andar, o costume incide, além do próprio apartamento em que está o morto, sobre os dois apartamentos acima e os dois apartamentos abaixo. Em prédios de dois (ou 3) apartamentos por andar, os dois (ou 3) daquele andar, bem como os dois (ou 3) acima e os dois (ou 3) abaixo do apartamento em que está o morto.

É costume, também, cobrir os espelhos e demais superfícies polidas (como televisão, quadros e fotos de pessoas envidraçados) onde se encontram os enlutados pois é proibido rezar na frente de espelhos. Além disso, segundo a Cabalá, a alma do falecido visita a casa durante estes dias e faz aparecer a sua forma através do espelho.

Preparação do corpo

É um princípio fundamental do judaísmo a honra e o respeito devidos, inclusive, a um ser humano sem vida (Kibud Hamet).

Por esse motivo, os cuidados do corpo, sua lavagem (Tahará) e preparativos para o enterro, como providenciar a mortalha mortuária, o caixão e a documentação legal, assim como o velório e o próprio enterro, são deveres religiosos sagrados, com que só os mais devotos e dignos membros da comunidade eram encarregados. Atualmente, encarrega-se dessas tarefas a Chevra Kadisha (Sociedade Sagrada), composta de homens e mulheres devidamente treinados e preparados para realizar esta última caridade.

Depois de lavado e purificado, o corpo é envolto em mortalhas brancas e simples (Tach’richim), para ressaltar a igualdade, na morte, do rico e do pobre; sob a cabeça do morto, é colocado um pouco de terra proveniente de Érets Israel; os homens são envoltos, ainda, no talit (“Tales”) que os envolveu em vida, porém, para simbolizar que não estão mais sujeitos aos preceitos deste mundo, suas franjas (Tsitsit) são rasgadas, para invalidá-Io.

É proibido embalsamar o corpo, pois o sangue do morto faz parte dele e deve ser enterrado com ele. Quando se faz necessário transportar o corpo para outra localidade, a Chevra Kadisha aplica as técnicas de conservação de cadáveres permitidas pela tradição judaica e de acordo com a legislação brasileira.

Dentes de ouro, dentadura, lentes de contato, e próteses podem ser retirados do corpo e não serem enterrados com ele8

É terminantemente proibido os enlutados ou outras pessoas que não sejam os funcionários da Chevra Kadisha verem o falecido antes de fechar-se o caixão.

Autópsia9

O consenso das decisões rabínicas durante os últimos séculos condenou e proibiu definitivamente a autópsia como uma profanação dos mortos. Contudo, foram feitas concessões, quando havia razoáveis perspectivas de que isto pudesse contribuir a salvar a vida de um outro paciente.

Nos raros casos em que a proibição geral de autópsia é suspensa, é de importãncia vital que guardem certas cautelas:

o mínimo possível de tecidos necessários para o exame deve ser usado todas as partes do corpo removidas devem ser devolvidas para serem enterradas. exceto quando exigido pela lei, a autópsia não deve nunca ser feita sem a permissão expressa da família ou o consentimento prévio feito pelo falecido, antes de sua morte.

Sendo que cada caso é diferente e as opiniões de rabinos competentes podem divergir quanto às condições da permissão, sugere-se seguir a orientação de seu rabino.

Doação de Órgãos

A doação de órgãos intervivos é permitida pelo judaísmo, desde que, após o transplante, o doador continue com a possibilidade de viver sem aquele órgão.

Já a doação de órgãos após a morte, não, pelo seguinte motivo: como a definição de morte pelo judaísmo compreende a parada cerebral e a parada cardíaca (ambas), transplantes de órgãos nessa condição não são possíveis pois, na medicina, é justamente entre a parada cerebral e a cardíaca que órgãos podem ser retirados para transplante em outra pessoa.

A única coisa que é possível retirar-se e aproveitar-se de um corpo (após a parada cerebral e a parada cardíaca) são suas córneas e sua pele. A retirada destas exclusivamente foi permitida, por alguns rabinos, nas seguintes condições:

Ser(em) reimplantada(s) em outro corpo imediatamente e não ficar(em) estocada(s), aguardando uma emergência que venha a ocorrer no futuro.

Ter o consentimento prévio do falecido, bem como a permissão expressa da família e a devida orientação de um rabino.

A doação, pura e simples, do corpo à ciência é proibida, mesmo sendo esta uma determinação prévia do falecido. Neste caso, cabe a família não dar ouvidos ao falecido e enterrá-Io como prescreve a lei Judaica.10

Cremação

É proibido cremar um corpo, mesmo quando o falecido assim o determinou previamente. O sepultamento precisa ser realizado na terra, de acordo com o ensinamento bíblico: “porquanto tu és pó, e ao pó hás de tornar” (Gênesis 3:19).

Se houver cremação (o que é extremamente prejudicial à alma do falecido), tanto se as cinzas forem enterradas na terra11, como se forem conservadas em uma urna, sobre a terra, ou forem espalhadas sobre o mar, a família não deverá observar o período de Shivá (sete dias de luto).

Suicídio

O dom da vida é uma dádiva divina, não cabendo, pois, aos seres humanos a decisão de interrompê-Ia ou encurtá-Ia.

O suicídio é condenado pelo judaísmo e comparado ao ato de renegar a fé. Por isso, os atos de luto e de sepultamento são feitos neste caso com muitas restrições. De toda forma, cada caso é um caso, e deve-se convocar rabinos para que analisem o caso minuciosamente, a fim de encontrarem circunstâncias atenuantes e para verificar se é realmente um caso de suicídio voluntário, antes de serem aplicadas as restrições estipuladas pela Lei, como a que determina seu sepultamento a uma distância de aproximadamente 5 metros dos demais túmulos e a não observância de luto.

Antes do Sepultamento

A fase entre o falecimento e o enterro é chamada Aninut, e a pessoa que tiver um familiar falecido, pelo qual tem de observar o luto12, é denominada Onen, até o sepultamento.

O Onen não pode comer carne, beber vinho, lavar-se, trabalhar (e sua loja, fábrica ou escritório devem ser fechados), cortar o cabelo e a barba, cumprimentar os outros, sentar-se em cadeiras e ter relações conjugais. Os sapatos de couro só deverá tirá-Ios após o enterro. Por outro lado, ele está isento das obrigações religiosas (como colocar os Tefilin), mas não das proibições, pois sua obrigação maior no momento é cuidar dos preparativos do enterro.

A Aninut não vigora no Shabat e no Iom Tov, exceto no tocante à intimidade (relações conjugais).

Em caso de translado ao exterior, deve-se consultar o rabino.

Velório

Até o sepultamento, deve-se dar aos enlutados plena vazão à sua aflição e dor, e não se deve oferecer condolências.

A exibição do morto num caixão aberto é considerada pela tradição como uma desonra e um desrespeito ao falecido; embora a intenção desta prática seja honrosa, ela é rejeitada pelos valores judaicos. Por isso, tão logo é constatado o óbito, o corpo é coberto com um lençol.

No recinto em que se encontrar o corpo ou o caixão, deve-se acender duas velas no castiçal e mantê-Ias sempre acesas até a saída do féretro. As pessoas devem ler Salmos13 em intenção à alma do falecido, mencionar as virtudes e as boas obras dele e manter no ambiente um clima de circunspecção e sobriedade.

O corpo não deve ser deixado sozinho, nem à noite, e é proibido comer, beber ou fumar no recinto em que este se encontrar.

No tocante ao envio de flores, este é um procedimento não costumaz no judaísmo; flores ou coroas de flores que porventura sejam enviadas em honra do falecido (principalmente por não judeus), devem ser aceitas mas não colocadas sobre o caixão ou levadas ao cemitério, e sim colocadas numa sala próxima ao velório.

A maior honra (cavod) que os amigos e parentes podem manifestar nesta ocasião, além de suas presenças, é o ato de fazer donativos às entidades de beneficência em nome do falecido e pelo repouso e elevação de sua alma, pois a caridade proporciona conforto espiritual à alma perante Deus.

Acompanhar um cortejo fúnebre (Levaiá) e levar um morto à sua última morada é um dever tão sagrado que permite, até mesmo, em alguns casos, interromper o estudo da Torá. O carro que transporta o féretro para o cemitério deve ir à frente; nele devem ir também correligionários para evitar que o corpo fique sozinho.14

Chegada ao cemitério

Toda pessoa que não visitou um cemitério judaico há 30 dias (exceto Onen), deve dizer:

Baruch ata Adonai, Elohênu mélech haolam, asher iatsar etchem badin, vezan vechilkel etchem badin, vehemit etchem badin, veiodêa mispar culchem badin, vehu atid lehachaiotchem ulcaiem etchem badin. Baruch ata Adonai, mechaiê hametim.

Bendito sejas Tu, Eterno, nosso Deus, Rei do Universo, que vos criastes em juízo, e vos sustentastes e nutristes em juízo, e vos falecestes em juízo, e que vos conheces a todos em juízo, e que no futuro vos ressuscitará e vos manterá em juízo. Bendito sejas Tu, Eterno, que ressuscitas os mortos.

Muitas grávidas e lactantes não costumam entrar no cemitério, seja para acompanhar um enterro, seja para uma visita.

Chegando ao cemitério15, o cortejo dirige-se à Bêt Tahara (Casa de Purificação), caso o corpo não tenha sido ainda lavado e purificado; em seguida, prestam-se-Ihe as últimas homenagens. Nas sextas-feiras à tarde ou nas vésperas de um Iom Tov, segue- se diretamente para o local da cova, quando o corpo já estiver devidamente preparado, conforme o ritual.

Tal qual durante o velório, o caixão (fechado) é colocado sobre uma mesa, com os pés voltados para a direção da porta, e velas são acesas no castiçal.

Keriá

Rasgar uma roupa (Keriá) que se está usando é a maneira religiosa de expressar a mágoa pela perda de um ente querido. É um antigo e tradicional sinal de luto, entre os judeus, que remonta a tempos biblicos: “E rasgou Jacob suas roupas... e enlutou-se por seu filho (José) muitos dias.” (Gênesis 37:34)

A Keriá é obrigatória para os sete parentes relacionados anteriormente (pai e mãe, filho e filha, irmão e irmã, e esposa/ esposo) e é feita em pé.

O oficiante da cerimônia inicia um corte vertical na roupa do enlutado, na altura do coração, com uma gilete ou tesoura, e este, com a mão, aumenta o rasgo até que tenha 8 centímetros.

Enquanto isso, o enlutado recebe o juízo de Deus, recitando a seguinte bênção:

Baruch ata Adonai Elohênu mélech haolam, daián haemet.

Bendito sejas Tu, Eterno, nosso Deus, Rei do Universo, Juíz da verdade.

Pela morte de pai e mãe, costuma-se fazer a Keriá no lado esquerdo, a fim de descobrir o coração. Por este motivo, se a pessoa estiver usando várias roupas, deverá rasgar todas elas (os sefaradim não rasgam o paletó, e os ashkenazim, que não tiverem tirado-o antes, deverão rasgá-Io também). Esta Keriá, se não foi feita na ocasião, deverá ser feita (sem a bênção) mesmo depois de passados muitos anos ou quando tomar conhecimento desta lei.

Pela morte dos demais parentes, costuma-se fazer a Keriá no lado direito, rasgando-se uma única roupa (camisa). Se não a fez na ocasião, deverá fazê-Ia dentro dos 7 dias após o falecimento, sem a bênção. Após 7 dias, não mais. Dentro dos 7 primeiros dias, se trocar de camisa, não precisará rasgá-Ia.

Se inverteu o lado na Keriá, assim mesmo cumpriu a obrigação. No Shabat e em Iom Tov é proibido fazer a Keriá. No Chol hamoed (dias intermediários de Pêssach e Sucót), embora não vigorem as leis de luto, faz-se a Keriá16.

Se o falecimento ocorreu em Iom Tov, mesmo que o enterro seja realizado no Chol hamoed, só se fará a Keriá após o término da Festa e o início do luto.

Em crianças pequenas, o costume é rasgar-Ihes a roupa só um pouquinho; nas maiores, que já vão à escola, procede-se como com os adultos. Pessoas doentes e mulheres grávidas estão dispensadas.

Uma pessoa pode trocar a roupa que estiver usando por uma mais velha para fazer a Keriá, se quiser, desde que esta roupa seja realmente sua.

A Keriá deve ser feita numa roupa, como blusa, camisa ou paletó, e não num adorno, como lenço, echarpe ou gravata.

É proibido o uso de uma fita preta, bem como vestir-se com roupas pretas, e isso, pela Lei Judaica, não substitui a Keriá.

É terminantemente proibido pela Torá flagelar-se, seja cortando a pele, seja arrancando um único fio de cabelo.

Cerimônia fúnebre

Em nome de todos os presentes, o oficiante pede perdão (Mechilá) ao morto (ditando seu nome e o nome de seu pai – ou mãe, no caso dos sefaradim) por qualquer coisa que alguém tenha infringido contra ele no curso de sua vida, e a um dos enlutados ele entrega um pedaço de tecido da mortalha que deverá ficar na casa onde será realizada a Shivá.

Em seguida, o Salmo 16 (Michtam ledavid) é recitado.

É costume discursar por um falecido, com a finalidade de mencionar as boas obras e qualidades que ele praticou e, assim, despertar os sentimentos dos que ouvem, fazendo-Ihes recordar o sentido da vida neste mundo transitório e suas obrigações religiosas. Quem fizer uso da palavra no Hesped, que tem um grande valor para a alma do falecido, deverá falar somente verdades e mencionar exclusivamente as qualidades que o falecido possuia, tomando o cuidado, ao mesmo tempo, de não ferir ninguém direta ou indiretamente.

Nas sextas-feiras à tarde, na véspera de um Iom Tov, em Rosh Chodesh e nos demais dias em que as preces de súplica não são recitadas, não se discursa por um morto. Nesses casos, deixa-se o discruso fúnebre para os Sheloshim.

Após esta cerimônia, os presentes (de preferência familiares)17, devem pegar as alças do caixão e carregarem-no para fora do recinto, os pés do morto na frente, e só então as demais pessoas saem e seguem o féretro.

No caminho, costuma-se recitar o Salmo 91 repetidamente até chegar-se à cova; é costume fazer 7 paradas no percurso, em alusão aos 7 juízos que recaem sobre o morto e aos 7 degraus místicos.

Se possível, deve-se evitar pisar nos túmulos em respeito aos mortos que lá jazem.

Enterro

Todo o tempo em que o falecido não estiver sepultado, considera-se que sua alma não está em repouso. Por isso, o sepultamento deve ser realizado tão logo possível depois do desenlace. O adiamento do enterro além do dia seguinte, só é permitido se for para prestigiar o falecido, como para aguardar a chegada de seus filhos de países distantes, ou por causa do Shabat ou de um Iom Tov, ou a fim de enterrá-Io na Terra de Israel.

O motivo pelo qual enterramos um corpo sem vida é porque o corpo de uma pessoa constitui a morada de uma alma neste mundo, mesmo que transitoriamente; do mesmo modo que é triste para uma pessoa ver a casa na qual ela habitou destruída, assim o é para a alma ver desprezado o “lugar” em que a mesma habitou. Sendo a alma uma centelha divina, o corpo que a abrigou tem também uma certa santidade e, por isso, ele deve ser “guardado” com santidade.

Este ato consiste também numa confirmação da nossa crença na ressurreição dos mortos e no mundo vindouro.

No Shabat, é proibido sepultar um morto. No Iom Tov, originalmente era permitido no 2º dia, porém, nas condições atuais, em que é impossível realizar um enterro sem causar a profanação das leis do Iom Tov (por exemplo: andar de carro) é proibido realizar enterros nos dias de Festa (Iom Tov) para evitar, assim, uma desonra ao falecido.

Chegando à cova recém-aberta, os amigos e parentes devem baixar o caixão suavemente.

Ao jogar terra sobre o caixão, o oficiante repete 3 vezes:

Ki afar ata veel afar tashuv.
Porquanto do pó vieste e ao pó retornarás.

Em seguida, os presentes, como demonstração da solidariedade judaica e em honra ao falecido, ajudam a cobrir totalmente o caixão com terra; um de cada vez presta sua homenagem jogando algumas pás de terra. O ideal é cobrir todo o caixão com terra através de correligionários.

As pessoas que estão colocando terra na sepultura devem cuidar-se em não passar a pá (ou a enxada) de mão em mão, mas sim fincá-Ia na terra para que o outro a pegue sozinho, e isto porque não se deve passar uma coisa trágica para o próximo.

Enquanto isso, o oficiante da cerimônia fúnebre recita, então, a prece Tsiduc Hadin (“Justiça do Julgamento”), na qual nos conformamos com a sentença de Deus a respeito do parente que faleceu. O texto inicia-se com as palavras Hatsur Tamim Paolo (“As obras da Rocha de Israel são perfeitas, porque todos seus caminhos são justiça; Deus fiel e sem iniquidade, justo e reto é Ele.”) e, em seguida, estando a sepultura completamente coberta de terra, os enlutados18 dizem o Cadish especial, denominado Dehu Atid, caso haja 10 judeus maiores de 13 anos em volta da sepultura.

Nas sextas-feiras à tarde, na véspera de um Iom Tov, em Rosh Chodesh, no Chol Hamoed e nos demais dias em que as preces de súplica não são recitadas, não se diz o Tsiduc Hadin e o Cadish Dehu Atid; no lugar disso, recita-se o Salmo 49 (Lamnatsêach) e o Cadish latom normal.

A seguir, o oficiante recita a prece rememorativa EI Malê Rachamim (“Ó Deus, que é pleno em misericórdia...”), exceto nos dias em que as súplicas não são recitadas (ver observação 52). O oficiante, em seu nome e em nome da Chevra Kadisha, pede ao morto perdão por alguma falha que tenham, porventura, cometido durante os rituais fúnebres, e encerra a cerimônia consolando os enlutados e informando o local em que se fará realizar a Shivá.

Terminado o enterro, o costume judaico é que os presentes formam duas colunas e os enlutados tiram os sapatos e passam no meio deste corredor e são consolados. Depois, são levados para casa.

As pessoas, antes de se afastarem, devem colocar uma pedrinha ou um punhado de terra sobre a sepultura e despedir-se do morto (a) com a seguinte frase:

masculino: Lech beshalom vetanúach beshalom, vetaamod legoralchá lekêts haiamin.
feminino: Lêchi beshalom vetanúchi beshalom, vetaamdi legoralech lekêts haiamin.

Parte em paz, descansa em paz e levanta-te ao fim dos dIas.

A partir deste instante, deve-se consolar os enlutados.

É proibido visitar outra seputura quando a ida ao cemitério foi motivada para acompanhar um féretro (Levaiá).

Saída do cemitério

À saída do cemitério, em qualquer ocasião, todos devem fazer Netilat ladáim19, isto é, lavar as mãos da forma ritual: enche- se com água um copo ou uma caneca, e despeja-se a água, primeiro sobre a mão direita e depois sobre a mão esquerda, até esvaziar a caneca. Não se recita nenhuma bênção após esta lavagem e é costume não enxugar as mãos, e sim deixá-Ias secar naturalmente, para que sua mente não se disperse. Porém, nos dias de frio poderá enxugá-Ias normalmente.

Pelo mesmo motivo que não se passa a pá de mão em mão, não se deve passar também a caneca para lavar as mãos.

É costume também, ao voltar de um enterro, não ir direto para casa, e sim passar em outro lugar antes, ou ao menos alterar o caminho e só depois ir para casa, e isto “para despistar o anjo da morte”.

Os 3 períodos de luto

Logo após o enterro20, passam a vigorar sobre os sete parentes as Leis de Luto.

A Lei Judaica estipula três períodos sucessivos de luto, que vão gradualmente diminuindo de intensidade. São eles: Shivá, Sheloshim e Avelut.

Shivá

O primeiro período é a Shivá, pois compreende os Sete primeiros dias de luto, imediatamente após o enterro, e visa ajudar as pessoas enlutadas a vencer o choque inicial.

No próprio enterro, o enlutado (Avel) inicia o luto trocando seus sapatos de couro por outros de pano, plástico ou borracha, ou coloca neles um pouco de terra, antes de ir para casa21.

A forma mais apropriada de observar a Shivá é a família estar junta na casa do falecido, pois, segundo a Cabalá, a alma visita o lugar onde uma pessoa viveu e faleceu, durante os sete dias22.

Contudo, isto não é obrigatório, e os membros da família podem guardar o luto em qualquer outro lugar, até mesmo separadamente, nas suas próprias casas, de acordo com as circunstâncias.

Durante a Shivá, algumas práticas são observdas:

  • Assento baixo: Os enlutados não se sentam em cadeiras de altura normal, senão em bancos baixos (até 30 cm do chão) ou sobre almofadas no chão. Em muitos lugares, remove-se as almofadas dos sofás e senta-se no estrado baixo (desde que sua altura não ultrapasse 30 cm.). Foi daí que originou-se a expressão “sentar shivá”, embora não seja necessário que os enlutados estejam sentados o tempo todo.
  • Espelhos: O costume de cobrir os espelhos etc. já foi mencionado na pág. 10.
  • Vela: Costuma-se manter acesa sobre a mesa uma vela, ou uma lamparina de azeite de oliva, durante os sete dias, em memória do falecido (inclusive durante o Shabat e o Iom Tov) próximo a uma janela entreaberta.
  • Água e paninho: Costuma-se colocar sobre a mesa, ao lado da chama, um pires (ou copo) com água, e ao lado deste um pedaço do tecido da mortalha do falecido a fim de, segundo a Cabalá, despertar o atributo Divino da benevolência (ao qual a água está ligada) sobre a alma do falecido, em alusão ao versículo bíblico que diz: “Mesmo que vossos pecados sejam escarlates, ficarão brancos como a neve.”
  • Caridade: Costuma-se colocar um prato, ou um cofrinho, sobre a mesa para que os visitantes façam donativos às entidades de beneficência em nome do falecido e pelo repouso de sua alma, conforme já explicado na pág. 13.
  • Rezas: Os enlutados não saem de casa durante a Shivá23, suspendem as ocupações habituais e dedicam seus pensamentos ao falecido. Por este motivo, a família e os amigos organizam no local as 3 rezas diárias (Arvit, Shacharit e Minchá) e, assim, proporcionam uma satisfação espiritual à alma que faleceu, e consolam e ocupam as mentes dos enlutados.

    Alguns textos da reza são omitidos (basicamente, as preces de súplicas) e outros são acrescentados (Salmos) nessas ocasiões. Quando for rezada a Amidá (Grande Oração), todos devem ficar de pé e voltar-se para a direção de Jerusalém (no sul do Brasil, para o nordeste).

    O Avel (enlutado), se souber e estiver apto, deve oficiar a cerimônia quando o luto é por seus pais, exceto nos dias em que se recita o Halel; pelos demais parentes, apenas se não houver outro para fazê-Io. Quando o Avel for o oficiante, deverá omitir a frase “Titcabal tselotehon...” no Cadish-Completo.

    Mesmo nessas circunstâncias, deve-se fazer com que haja uma divisória (Mechitsá) entre o ambiente ou sala em que os homens estão rezando e o em que se encontram as mulheres, incluindo as enlutadas, tal qual numa sinagoga. A propósito, as mulheres também podem e devem rezar, por si mesmas ou pela alma do falecido, tanto as rezas em si como capítulos dos Salmos.

    A prática contemporânea de servir cafézinho e bolo após os ofícios religiosos, embora facultativa, visa proporcionar elevação à alma do falecido, através das respectivas bênçãos pronunciadas pelos alimentos “Leilui nishmat”, antes de ingerí-Ios.

    Se não houver condições de realizar as rezas na casa do enlutado, ele pode ir à sinagoga, a fim de recitar o Cadish e, em seguida, voltar para casa, mas acompanhado na ida e na volta (ver página 25 sobre a proibição de calçar sapatos de couro).

  • Primeira Refeição: Após o enterro, a primeira refeição dos enlutados não deve ser de sua própria comida24, mas sim, deve ser provida e preparada por vizinhos, amigos ou parentes.

    Ela é denominada Seudat Havraá (“Refeição do restabelecimento”) e conhecida como “refeição de consolo”. Ela consiste de pão e ovos duros (antigamente lentilhas). O ovo, que é um símbolo de luto e de condolências, em sua redondez simboliza a natureza contínua da vida e também sugere, talvez, que renovação e alegria podem surgir depois do desespero.

    Esta refeição deve ser consumida pelos enlutados num ambiente calmo e de contemplação, sem que se crie um ambiente de encontro social. Ela se destina exclusivamente aos enlutados. Caso os amigos não tenham providenciado aos enlutados esta refeição, eles podem comer da sua própria comida. Se os enlutados não estiverem em estado de pensar em comer no primeiro dia, poderão comer à noite ou no dia seguinte já da sua comida.

    Esta refeição não é servida quando os enlutados retornam do enterro na tarde da véspera do Shabat ou de um Iom Tov e faltam menos de 2 (duas) horas para a entrada dos mesmos. Ela é servida mesmo num Rosh Chodesh (início do mês judaico), em Purim e Chanucá, e nos dias intermediários de Pêssach e Sucót (Chol Hamoed), sendo que nesses últimos, por não vigorarem neles as leis de luto, ao invés de pão e ovo, serve-se bolo e café.

Cadish

O Cadish é uma das mais antigas orações da liturgia judaica e remonta à época do 2º Templo. Antigamente, era recitado somente no final de uma sessão de estudos da Torá, e só em alguma época da Idade Média passou a identificar-se também com os enlutados, embora não faça referência alguma aos mortos ou ao luto.

O Cadish é uma declaração profunda de fé na grandeza infinita de Deus e um apelo pela redenção e salvação. Portanto, se no meio da aflição provocada pela perda de um parente, quando surge a tendência de culpar e rejeitar Deus, ainda assim, uma pessoa se levanta para expressar publicamente essas palavras de fé em Deus, então isso é um ato de grande mérito para a alma do falecido, por ter criado alguém capaz de tal demonstração de fé. É apenas nesse sentido que o Cadish pode ser considerado como uma “oração pelos (= em pról dos) mortos”, visto que sua recitação junta-se aos méritos da alma que partiu, no julgamento a que é submetida no mundo do porvir, e no processo de elevação do espírito do falecido.

Quem deve recitar o Cadish

A obrigação prioritária desse ato de reverência recai sobre o(s) filho(s) homem(s) pela morte de seus pais, mesmo que esse(s) filho(s) não tenha(m) completado 13 anos (Bar-Mitsvá)25.

Se a pessoa que faleceu não teve filhos, a obrigação recai, então, sobre seu pai, mesmo que os pais deste ainda estejam vivos26. Se este já é falecido, os irmãos devem rezar o Cadish por essa pessoa.

Se a pessoa que faleceu não deixou filhos homens vivos, caberá aos filhos dos seus filhos (ou demais netos, desde que órfãos) rezarem o Cadish por ela; na ausência destes, ou se forem ainda crianças, o dever recairá sobre seu pai; na ausência destes, os irmãos do falecido rezarão por ela.

Não havendo nenhum desses parentes, o marido ou um genro poderão recitar o Cadish, desde que os pais destes sejam falecidos. Do contrário, deve-se contratar os serviços de uma pessoa religiosa para recitar o Cadish.

Este recurso só é válido nesse caso. Quando há um filho, porém, o próprio mérito que é atribuído ao falecido pelo dever cumprido pelos sobreviventes, lhe é negado quando se contrata uma pessoa estranha como substituto. É mais meritório e melhor um filho recitar o Cadish apenas uma vez por dia do que um estranho dizê-Io cem vezes num dia!

Uma filha não tem essa obrigação, e nem pode recitar o Cadish, mas pode levantar-se na hora que o estão recitando, ouví-Io atentamente e responder Amen e lehê Shemê Rabá etc. na certeza de que, Aquele que esquadrinha e conhece os pensamentos, considerará como se ela o estivesse recitando.

Exemplos:

Se Isaac morrer, a obrigação de recitar o Cadish recairá prioritaria e exclusivamente sobre:

  1. Moisés e David
  2. Natan e Mendel (se Moisés e David forem falecidos)
  3. Dan (se Rebeca for falecida)
  4. Marido de Rebeca (se for órfão)

Se Rebeca morrer, a obrigação de recitar o Cadish recairá prioritaria e exclusivamente sobre:

  1. Dan
  2. Joel (se Dan for falecido)
  3. Moisés e David
  4. Marido de Rebeca (se for órfão)

Se Moisés morrer, a obrigação de recitar o Cadish recairá prioritaria e exclusivamente sobre:

  1. Natan e Mendel
  2. Jayme (se Mendel e Natan forem falecidos)
  3. Isaac (se Jayme for criança)
  4. David

Se David morrer, a obrigação de recitar o Cadish recairá prioritaria e exclusivamente sobre:

  1. José (se Rachel for falecida)
  2. Isaac (se José for criança)
  3. Moisés
  4. Marido de Rachel (se for órfão)

Se Rachel morrer, a obrigação de recitar o Cadish recairá prioritaria e exclusivamente sobre:

  1. José
  2. David (se José for criança)
  3. Marido de Rachel (se for órfão)
Até quando recita-se o Cadish

O Cadish deve ser recitado diariamente (inclusive no Shabat e nas Festas) nos três ofícios religiosos (Arvit, Shacharit, Minchá) por 11 meses, a contar do dia do enterro.

Por exemplo: se uma pessoa foi enterrada no dia 7 do mês hebraico de Shevat, deverá ser recitado o Cadish por ela até o ofício da tarde (Minchá) do dia 6 de Tevêt (mês anterior a Shevat); se o ano em curso for de 13 meses27, até o oficio da tarde do dia 6 de Kislev (mês anterior a Tevêt).

Forma de recitar

Por ser o Cadish uma oração comunitária, que exige sua recitação perante uma congregação, ele só pode ser recitado na presença de um Minyan (10 judeus com mais de 13 anos); quando se reza solitariamente ou em menos de 10 pessoas, não é permitido recitá-Io.

O Cadish recitado pelos enlutados tem duas variantes básicas: o Cadish-Iatom (mais curto) e o Cadish Derabanan (que intercala no meio a frase “Al Yisrael”). Após a leitura da Torá, é costume convocar-se um dos enlutados para recitar o Meio-Cadish, que é mais curto que o Cadish-Iatom.

Atualmente, todos os enlutados recitam o Cadish na sinagoga juntos; este costume é muito válido mas desde que todos recitem- no realmente juntos, palavra por palavra, para que os presentes possam responder Amen e lehê Shemê Rabá também juntos e por todos simultaneamente. Na casa onde se realiza a Shivá, uma pessoa que está recitando o Cadish por um parente seu não deve esperar os enlutados da casa recitarem o Cadish pelo recém-falecido e sim recitar o Cadish conjuntamente.

Ele deve ser recitado de pé, em posição de sentido, com os pés juntos, e de tal forma que as pessoas possam ouví-Io e responder Amen e lehê Shemê Rabá etc. Nos primeiros dias, principalmente, deve-se lê-Io devagar e com atenção, para não adquirir erros de leitura, o que é muito frequente, infelizmente.

Antes de pronunciar a última frase (Osse Shalom), deve-se dar 3 passos para trás, um pouco inclinado, como um servo que se afasta do seu amo, e fazer uma reverência para a esquerda, para a direita e para o meio, enquanto pronuncia toda a frase; espera-se um pouco e volta-se os três passos para frente.

Durante os 11 meses, é costume o enlutado, se souber e estiver apto, oficiar as rezas na sinagoga; se não todas, pelo menos a da noite; mas é costume que ele não oficie as rezas no Shabat e no Iom Tov.

“A maneira mais importante de ganhar a Graça Divina, para os pais falecidos, e pela qual se honra a sua memória, é o modo de vida seguido pelos filhos - de retidão e praticando boas ações, e pela sua devoção aos caminhos de Deus. Na avaliação da vida dos pais, considera-se a influência que exerceram sobre os filhos. Em última análise, portanto, é a vida dos filhos que determina o valor dos anos que os pais passaram na terra.”28

“Com a observância do Cadish, ocorre frequentemente o retorno parcial, e ocasionalmente total, ao judaísmo. Quando menos, o costume traz a pessoa enlutada de volta à sinagoga, fazendo reviver nela a familiaridade com o hebraico e a liturgia, e permitindo-lhe reservar diariamente uma pequena porção de seu tempo para a meditação. A insinuação de que o Cadish transforma nossa fé numa ‘religião dos mortos’ é infundada; pelo contrário: se os mortos, com a sua morte, contribuem, de qualquer maneira, para restaurar a fé entre os vivos, então eles não terão morrido em vão. A ida diária à sinagoga para dizer o Cadish é um dos atos mais misericordiosos e mais valiosos que os vivos podem praticar.”29

Proibições durante a Shivá30
  • Sapatos – Os enlutados não podem calçar sapatos de couro (mesmo apenas parcialmente)31. Podem calçar sapatos ou chinelos de pano, plástico ou de borracha, em vez de ficarem só de meias.
  • Cabelos – Os enlutados, tanto homens como mulheres não podem cortar os cabelos e aparar as unhas; os homens, além disso, não podem cortar a barba ou barbear-se. Pentear-se é permitido, mas não o uso de Gel.
  • Trabalho – Os enlutados não podem trabalhar, sejam eles autônomos ou empregados. Um Rabino deve ser consultado para as excessões, pois existem atenuantes para certos casos.
  • Banho – Não se pode tomar banho ou chuveiro, mesmo com água fria, por prazer, exceto em caso de grande desconforto. Lavar-se por motivos de higiene é permitido, mas só com água fria.
  • Cremes – É proibido passar cremes ou cosméticos em geral no corpo. Cremes ou pomadas, por motivos de saúde, é permitido.
  • Relação Conjugal – As relações conjugais são proibidas.
  • Roupas – Não é permitido lavar e passar roupas, bem como usar roupa nova ou recém-lavada e passada, nem trocar os lençóis; porém, se a que estiver usando ficar suja, poderá trocá-Ia32. Limpar a casa, lavar os pratos e talheres e cozinhar é permitido.
  • Cumprimentar – Os enlutados não devem cumprimentar ninguém usando a expressão “Shalom”, mas podem dizer “Bom Dia”, “Boa Tarde” ou “Boa Noite”, ou mesmo desejar “Refuá Shelemá” a um doente, ou “MazaI Tov” a um amigo, por ocasião de alguma alegria na família deste, ou mesmo trocar um aperto de mãos.
  • Presentear – Os enlutados não devem enviar presentes, nem deve-se enviar a eles presentes durante este período; em Purim, os enlutados podem enviar mishloach manot, mas apenas para uma pessoa, pois trata-se de cumprir uma mitsvá (preceito religioso).
  • Torá – O estudo da Torá alegra o coração, sendo, portanto, proibido, exceto os livros que tratam das leis de luto ou os livros de Jó, Lamentações (Echá) e partes de Jeremias, que falam de aflição e angústia. Outras leituras são desaconselháveis, pois desviam a atenção do luto.
  • Tefilin – Os enlutados estão proibidos de colocar os Tefilin no primeiro dia de luto; não obstante, se o sepultamento ocorrer no dia posterior ao do falecimento, é recomendável colocá-Ios depois do enterro, mas com total discrição e sem as devidas bênçãos. O Talit é usado normalmente.
  • Alegria – Participar de qualquer festa, alegria ou entretenimento, como ouvir música ou assistir televisão, é proibido. Um enlutado sequer deverá segurar uma criança no colo, pois espontaneamente irá brincar com ela.

    Um enlutado deve realizar o Berit Milá (circuncisão, “Bris”) de seu filho33, mesmo fora de casa, porém a refeição que se sucede deverá ser feita em casa. O mesmo se aplica ao Pidion Haben (resgate do primogênito)34 e ao Bar Mitsvá (quando o jovem de 13 anos é chamado à Torá pela primeira vez na sinagoga, normalmente às segundas e quintas-feiras).

    Os enlutados não podem casar-se, mesmo quando a data já estava marcada35. Se um dos pais dos noivos estiver de luto, poderá participar da cerimônia, para não magoar aos noivos com sua ausência, porém deverá retirar-se na hora das músicas e não provar da comida.

    Realizar um compromisso de noivado (sem festa) é permitido.

Durante a Shivá é desaconselhável discutir as questões de herança e testamento, bem como retirar da casa do falecido qualquer um de seus pertences. Definitivamente, esta não é a hora para isso.

Se um falecimento vier a ocorrer após o casamento, o luto será iniciado depois do término da primeira semana do casamento.

Shabat dentro do Shivá36

Na sexta-feira à tarde, aproximadamente uma hora e quinze minutos antes do pôr do sol37, os aspectos externos e públicos da Shivá são suspensos, e os enlutados podem preparar-se para receber o Shabat; nele, é proibido demonstrar sinais de luto, embora o Shabat conte normalmente como um dos 7 dias.

Os enlutados, portanto, devem calçar sapatos de couro, trocar a roupa rasgada e vestir roupas de Shabat normalmente, sair de casa para ir à sinagoga38, sentar em cadeiras normais e cumprimentar a todos com “Shabat Shalom”; as mulheres não devem esquecer de acender as velas de Shabat.

Embora, a princípio, não se deva, pode-se consolar um enlutado no Shabat, porém não com a fórmula tradicional (ver página seguinte), exceto quando os enlutados, no Cabalat Shabat saem e retomam à sinagoga após o trecho Lecha Dodi, e a congregação os saúda com ela.

As demais proibições (de caráter íntimo) permanecem39; todas, porém, voltam a vigorar logo no término do Shabat, após a reza de Arvit, e os enlutados voltam a descalçar seus sapatos de couro, vestir a roupa rasgada e sentar-se no baixo.

Confortar os enlutados40

A preocupação com o bem-estar mental, emocional e espiritual dos enlutados, e a necessidade de consolá-Ios, é um dever fundamental no judaísmo41.

Quando se entra em uma casa enlutada, não se cumprimenta os enlutados. Já que palavras não podem expressar adequadamente os profundos pêsames, e o que se diz é frequentemente banal, é melhor não dizer nada. A Tradição ensina que o visitante não deve abrir a conversa com os enlutados, aguardando que estes o façam.

É próprio falar do falecido e recordar as suas boas qualidades, que o tornaram querido às pessoas que o conheciam. Os que deliberadamente evitam mencionar o falecido, achando que, desta forma, fazem o enlutado esquecer a sua dor, não entendem a psicologia da aflição. Falar sobre trivialidades, durante toda a visita, consola muito menos e mágoa mais do que falar sobre o falecido.

Antes de deixar a casa dos enlutados, profere-se a fórmula tradicional42 de consolo:

Hamacom ienachem
masculino: otchá     feminino: otach     plural: otchem
betoch shear avelê Tsion virushaláyim.

Que Deus Te /plural: vos/ console junto com todos os que sofrem por Tsión e Jerusalém.

Não é necessário dizer mais que isto, porém, pode-se acrescentar palavras de conforto e esperança, se assim se deseja e se a pessoa encontrar as palavras adequadas43.

Término do Shivá

O período de Shivá termina na manhã do sétimo dia logo após a reza da manhã. O dia do enterro (e não do falecimento) conta como o primeiro dia, mesmo que este tenha ocorrido apenas momentos antes do pôr do sol.

Exemplos:

  1. Se o enterro ocorreu na segunda-feira, a Shivá terminará no domingo de manhã.
  2. Se o enterro ocorreu no domingo e o Shabat é o 7º dia, o procedimento é semelhante ao explicado na página 81; a única diferença é que, após o horário em que, normalmente, terminam no Shabat as rezas nas sinagogas (aproximadamente 11 horas), o enlutado poderá estudar qualquer trecho da Torá e, no término do Shabat, as demais proibições (íntimas) que ainda vigoravam no Shabat passam a não vigorar mais44 e a Shivá é encerrada.

Quando as rezas são realizadas na casa dos enlutados, ao término das mesmas na manhã do sétimo dia (quando não for Shabat), as pessoas passam na frente dos enlutados (que estão sentados no baixo) e dizem a fórmula de condolência tradicional; entre os Sefaradim, um dos condolentes recita ainda para eles os seguintes versículos:

Lo iavô od shimshech virechech lo ieassêf, ki Adonai yihie lach leor olam, veshalmu iemê evlêch. Keish asher imo tenachamênu, ken anochi anachemchem, uvirushaláyim tenuchámu.
Não mais se porá o teu sol, nem a tua lua minguará, porque o Eterno será a tua luz perpétua, e os dias do teu luto acabarão. Como aquele que é consolado por sua mãe, assim Eu vos consolarei, e em Jerusalém vós sereis consolados.

Essa pessoa (um homem para os enlutados e uma mulher para as enlutadas) pede aos enlutados que se levantem, estende para eles suas duas mãos e levanta-os do chão, e assim é dada por encerrada a Shivá.

Se não estiverem realizando as rezas na casa dos enlutados, estes deverão “levantar” da Shivá no horário em que, normalmente, terminam as rezas da manhã nas sinagogas (o que, nos dias úteis, acontece às 7h30).

Em algumas comunidades, é costume que os enlutados, após calçarem seus sapatos normais e trocarem a roupa rasgada, saiam de casa para dar um passeio pela rua (alguns dão a volta no quarteirão), com a finalidade de “acompanhar a alma” que agora deixa a casa na qual realizou-se a Shivá. Nessa ocasião, despeja-se a água do copo no meio fio e guarda-se o paninho para a cerimônia de Sheloshim e deixa-se a vela esvair-se por si só.

Em outras comunidades, dependendo do estado físico e moral dos enlutados, costuma-se visitar o túmulo neste dia (se for Shabat, então no domingo) e rezar pela alma do falecido os Salmos 33, 16, 17, 72, 91, 104, 130 e as estrofes alfabéticas do 119 que compõem a palavra Neshamá (alma) e o nome do falecido; os enlutados (ou um dos presentes) recita o Cadish-Iatom, se houver 10 pessoas próximas à sepultura (caso contrário, o Cadish não é recitado) e a prece rememorativa EI Male Rachamim.

A pessoa que, por qualquer motivo (exceto doença) não cumpriu nenhuma das observâncias da Shivá durante os sete primeiros dias, deverá compensá-Ia por 7 dias dentro dos primeiros trinta dias. A Keriá, porém, só deverá ser feita por seus pais. Mas se cumpriu alguma das observâncias da Shivá, mesmo que não durante os 7 dias, ou mesmo apenas no 7º dia, cumpriu sua obrigação e não precisa compensá-Ia.

A pessoa que tomou conhecimento do falecimento de um parente mas estava acamada durante os 7 dias da Shivá não precisa compensá-Ia depois de sua recuperação, visto que alguns dos procedimentos da Shivá foram deveras cumpridos.

Após 30 dias do falecimento, senão cumpriu a observância da Shivá, deverá guardar a Shivá por uma hora, ao ouvir a notícia. Se estava compensando a Shivá e chegou o 30º dia, deverá interrompê-la.

Sheloshim

O segundo período de luto é conhecido como Sheloshim (“trinta”); este inicia-se com o fim da Shivá, no 7º dia após o enterro, e estende-se por mais 23 dias, até o nascer do sol do 30º dia após o enterro.

Neste período, os enlutados reiniciam suas atividades normais, porém permanecem proibidos de algumas coisas:

  • Cabelos – Os enlutados, tanto homens como mulheres, não podem cortar os cabelos e aparar as unhas; os homens, além disso, não podem cortar a barba ou barbear-se.
  • Roupas Novas – Não é permitido comprar e usar roupas novas (exceto roupas de baixo).
  • Alegria – Participar de qualquer festa, alegria ou entretenimento, como ouvir música, assistir televisão ou ir ao teatro ou cinema, é proibido.

    Da mesma forma, os enlutados não podem casar-se, exceto se o noivo ainda não tem filhos e a data já estava marcada, ou quando o casamento foi transferido da Shivá. Nesses casos, as demais proibições ficam suspensas, podendo haver na festa música e dança. As restrições retornarão apenas após a primeira semana do casamento, que é contada como parte dos Sheloshim.

    Participar de cerimônias de Berit Milá (circuncisão), Pidion Haben (resgate do primogênito) ou Bar-Mitsvá (quando o jovem de 13 anos é chamado à Torá pela primeira vez na sinagoga, normalmente às segundas e quintas feiras), assim como de reuniões comerciais ou de assuntos referentes à comunidade, é permitido; quanto a participar da refeição que as sucede, as opiniões divergem e convém consultar uma autoridade religiosa.

    Se um dos pais dos noivos estiver de luto, poderá participar da cerimônia de casamento e do jantar que se sucede, para não magoar aos noivos com sua ausência, mas desde que ajude servindo os convidados e retire-se na hora das músicas.

  • Viajar – Viajar a passeio ou turismo é desaconselhável; a negócios, mesmo para o exterior, é permitido.
  • Presentear – Os enlutados não devem enviar presentes, nem se deve enviar a eles presentes durante este período; em Purim, os enlutados podem enviar mishlôach manot, mas apenas para uma pessoa, pois trata-se de cumprir uma mitsvá (preceito religioso). Como existem divergências na Lei Judaica, é caso de se consultar o rabino.

É costume, nesse período, que os enlutados não se sentem nos seus locais habituais na sinagoga.

O preceito de confortar os enlutados vigora nesse período também.

Costuma-se visitar o túmulo no 30º dia; se for Shabat, pode-se visitá-Io na sexta-feira ou no domingo.

Na cerimônia que se realiza no cemitério por ocasião dos 30 dias do enterro (Sheloshim), enterra-se o pedaço de tecido da mortalha na sepultura do falecido, recita-se os Salmos 33, 16, 17, 72, 91, 104, 130 e as estrofes alfabéticas de 119 que compõem a palavra Neshamá (alma) e o nome do falecido; os enlutados (ou um dos presentes) recita o Cadish-Iatom, se houver 10 pessoas próximas à sepultura (caso contrário, o Cadish não é recitado) e a prece rememorativa EI Male Rachamim.

Na cerimônia dos Sheloshim é permitido fazer discursos fúnebres (Hesped), principalmente se na ocasião do enterro não foi possível fazê-Io por qualquer razão.

Com estes procedimentos, dá-se por encerrado o processo de luto por cinco dos sete parentes - filho e filha, irmão e irmã e esposa/esposo. As excessões são pai e mãe, sobre os quais, e exclusivamente sobre eles, respeitar-se-á o terceiro período.

A pessoa que, por qualquer motivo, não cumpriu a observância dos Sheloshim, não precisará compensá-Ias posteriormente.

Avelut (12 meses)

O terceiro período de luto, observado exclusivamente pela morte de pai ou mãe, é conhecido como Avelut (“luto”); este inicia-se ao nascer do sol do 30º dia do enterro (Sheloshim) e estende- se por doze45 meses (hebraicos), até o primeiro aniversário do falecimento (e não do enterro). Entretanto, se o enterro aconteceu dois ou mais dias após o falecimento, a Avelut só será encerrada no aniversário do enterro; nos anos seguintes, a data a ser rememorada será a do falecimento.

Exemplos: se uma pessoa faleceu no dia 7 do mês hebraico de Shevat e for enterrada no dia seguinte, o período de doze meses encerrar-se-á ao entardecer do dia 7 de Shevat do ano seguinte. Porém, se o ano em curso foi de 13 meses, a Avelut será encerrada no dia 7 de Tevet (mês anterior), quando completa-se um período de 12 meses (embora não coincida com o aniversáro da morte).

Neste período, algumas poucas proibições permanecem:

  • Cabelos – Os enlutados, tanto homens como mulheres, poderão cortar o cabelo logo no 31º dia após o enterro, desde que seus amigos venham e advirtam-nos (Gueará) sobre a conveniência de cortarem seus cabelos. Se os amigos não os advertirem, eles poderão cortá-Ios somente ao se passarem 3 meses. As unhas podem ser aparadas mesmo no 30º dia. A barba - mesmo se os amigos não o advertirem, poderá cortá-la46 alguns dias após o 30º dia.
  • Roupas Novas – Não é permitido comprar e usar roupas novas (exceto roupas de baixo). Utensílios domésticos e móveis é permitido.
  • Alegria – Participar de qualquer festa, alegria ou entretenimento, como ouvir música, assistir televisão ou ir ao teatro ou cinema, é proibido.
    Casar é permitido, mesmo se ainda não havia marcado a data.
    Participar de cerimônias de Berit Milá (circuncisão), Pidion Haben (resgate do primogênito) ou Bar-Mitsvá (quando o jovem de 13 anos é chamado à Torá pela primeira vez na sinagoga, normalmente às segundas e quintas-feiras), assim como de reuniões comerciais ou de assuntos referentes à comunidade, é permitido; quanto a participar da refeição que as sucede, as opiniões divergem e convém consultar uma autoridade religiosa.
    Se um dos pais dos noivos estiver de luto, poderá participar da cerimônia de casamento e do jantar que se sucede, para não magoar aos noivos com sua ausência, mas desde que ajude servindo os convidados e retire-se na hora das músicas.
  • Viajar – Viajar a passeio ou turismo é desaconselhável; a negócios, mesmo para o exterior, é permitido.
  • Presentear – Os enlutados não devem enviar presentes, nem se deve enviar a eles presentes durante este período; em Purim, os enlutados podem enviar mishlôach manot, mas apenas para uma pessoa, pois trata-se de cumprir uma mitsvá (preceito religioso).

É costume, nesse período, que os enlutados não se sentem nos seus locais habituais na sinagoga.

O preceito de confortar os enlutados pelo falecimento de seus pais vigora nesse período também.

Ao mencionar o nome de seus pais falecidos nesse período, é costume acrescentar a expressão:

masculino: Arêni caparat mishcavô
feminino: Arêni caparat mishcavá

“Que eu seja a expiação pelos seus atos.”

Após 12 meses, a expressão “De abençoada memória” é usada assim:

masculino: Zichronô livrachá
feminino: Zichroná livrachá

Costuma-se chamar o enlutado, na sinagoga, como Maftir47, durante os 12 meses, e os enlutados costumam doar livros à sinagoga, nesse período, escrevendo neles o nome do falecido, para que a alma deste beneficie-se do estudo ou da oração que emanarem desses livros.

Costuma-se visitar o túmulo no dia em que se completam os 12 meses; se for Shabat, pode-se visitá-Io na sexta-feira ou no domingo.

Terminados os doze meses, é proibido continuar as práticas ou abstenções que manifestem a continuação do luto. O judaísmo é rigoroso ao restringir o luto a determinados períodos e às praxes costumeiras. O pesar excessivo é considerado como falta de confiança em Deus. Considera-se natural e desejável que, com o tempo, se desfaça a mágoa causada pela morte.

Embora ninguém continue sendo o mesmo depois de um transe desses, espera-se que, uma vez cessado o luto, seja retomado o curso normal da vida, abolindo, em pról da própria vida, todos os resquícios de pesar.

A marca permanece, mas a vida retoma o seu curso.

Matsevá

O costume de colocar-se uma lápide à cabeceira do túmulo remonta a tempos bíblicos: “E erigiu Jacob um monumento (Matsevá) sobre a sua (de Rachel) sepultura” (Gênesis 35:20). A colocação da pedra tumular é um ato de reverência e respeito pelos falecidos, para não serem esquecidos, para que seu local de repouso não seja profanado e para perpetuar seus nomes.

Segundo a Cabalá, a Matsevá propicia abrigo para uma pequena fração da alma que paira sobre o túmulo. Esta obrigação recai sobre os familiares do falecido.

É difundido o costume de colocar-se a lápide após 12 meses. O motivo deste costume é que, durante o primeiro ano, os falecidos são lembrados diariamente pelos enlutados, não havendo, portanto, necessidade de uma lápide. Contudo, não há regulamentos definitivos sobre isto, e é correto, sob o ponto de vista religioso, colocar a pedra tumular o mais breve possível após os 7 dias iniciais. Em Israel, por exemplo, o costume é colocá-Ia logo após os Sheloshim (trinta dias).

Os sábios aconselham simplicidade (e não ostentação) na confecção da lápide; nela deve estar gravado ou escrito o nome do falecido/a e o nome de seu pai (os sefaradim usam o nome da mãe), se era Cohen ou Levi, a data do seu falecimento pelo calendário judaico e o acróstico que significa: “Possa sua alma estar ligada à corrente da vida eterna”. Não se deve acrescentar elogios em demasia na lápide, nem fazer constar nela a data civil do falecimento.

É mais adequado usar na lápide letras gravadas na pedra em baixo-relevo, e não em alto-relevo.

É importante distinguir entre a necessidade de se colocar uma pedra tumular, que é um costume antigo e consagrado, e entre o descerramento da lápide, que é acompanhado por um serviço ritual especial. O ritual do descerramento (ou “descoberta”), embora também muito difundido atualmente,48 não tem base na lei Judaica e é uma inovação contemporânea. Ainda que proporcione mais uma oportunidade para render-se homenagem a uma pessoa digna, nenhuma família precisa sentir-se obrigada pela religião a organizar uma cerimônia formal de descerramento. É suficiente colocá-Ia adequadamente e visitar o túmulo em caráter particular.

Iortseit

A data do falecimento dos pais é rememorada anualmente através de algumas práticas religiosas; esta data representa para a alma a possibilidade de ascensão nos “degraus” da santidade espiritual, e é observada com carinho e respeito pelos filhos dos falecidos.

No primeiro ano, o lortseit coincide com o dia do término do período de 12 meses (exceto em anos de 13 meses), isto é, se o enterro ocorreu dois ou mais dias após o dia do falecimento, o primeiro lortseit acontecerá no primeiro aniversário do enterro (quando encerra-se o período de 12 meses); nos anos seguintes, a data a ser rememorada será a do falecimento.

Por exemplo: se uma pessoa faleceu no dia 7 do mês hebraico de Shevat (sexta-feira) e foi enterrada no dia 9 (domingo), o primeiro lortseit acontecerá no dia 9 de Shevat do ano seguinte, junto com o término do período de 12 meses; nos anos seguintes, o lortseit acontecerá no dia 7 de Shevat (data do falecimento). Porém, se o ano em curso for de 13 meses, o lortseit acontecerá no dia 7 de Shevat do ano seguinte (data do falecimento), embora o período de 12 meses tenha encerrado-se no dia 7 de Tevet (mês anterior a Shevat).

Nesse dia, os filhos devem recitar o Cadish no ofício noturno da véspera e nos ofícios da manhã e da tarde daquele dia. Sempre que possível, devem eles mesmos conduzir os serviços religiosos e devem procurar ser chamados à Torá para uma “aliyá”, ou no próprio dia ou no Shabat anterior ou em ambos.

É costume acender na véspera uma vela ou uma lamparina de azeite (ou mesmo uma “vela elétrica”)49 que fique acesa por 24 horas, em memória do falecido, baseado no versículo “A alma do homem é a lâmpada do Eterno”. A chama deve apagar-se sozinha, mesmo passadas as 24 horas.

Este dia é especialmente indicado para boas ações, atos de solidariedade humana e contribuições à caridade, em intenção da alma do falecido.

Costuma-se visitar o túmulo no dia do lortseit e recitar os Salmos 33, 16, 17, 72, 91, 104, 130 e as estrofes alfabéticas do 119 que compõem a palavra Neshamá (alma) e o nome do falecido; se houver 10 pessoas próximas ao túmulo, recita-se o Cadish-Iatom (caso contrário, não), e a prece rememorativa EI Malê Rachamim (“Ó Deus, que é pleno em misericórdia...”).

Outro costume nesse dia é jejuar, exceto nos dias em que as preces de súplicas (Tachanun) não são recitadas50.

Algumas pessoas, quando vão visitar o túmulo dos pais no dia do lortseit, não visitam nenhum outro túmulo.

Se a data do falecimento é ignorada, deve-se escolher uma data qualquer e fixá-Ia anualmente como o dia do lortseit.

Uma pessoa que esqueceu de recitar o Cadish no dia do lortseit, deverá compensar recitando-o em outro dia qualquer.

Nesse dia, desde o entardecer da véspera do lortseit pelos pais, um filho não deverá participar de festas, especialmente de casamentos, até o entardecer.

Alguns casos interessantes:

  • O lortseit de uma pessoa que faleceu no mês de Adar de um ano normal de 12 meses será, num ano de 13 meses, no 2º Adar;

  • O Iortseit de uma pessoa que faleceu no mês de Adar de um ano de 13 meses será:
    1. num ano de 12 meses será sempre no próprio Adar (só tem um);
    2. num ano de 13 meses será no Adar correspondente ao do ano do falecimento (se faleceu no 1º, o lortseit será no 1º; se faleceu no 2º, no 2º).

  • O lortseit de uma pessoa que faleceu no primeiro dia de Rosh Chodesh Kislev ou Tevet51 será sempre de acordo com o primeiro lortseit após o falecimento; ou seja:
    1. se no ano seguinte ao falecimento, o mês anterior a Kislev (ou Tevet), que é Cheshvan (ou Kislev), for de 29 dias, o lortseit será no dia 29 de Cheshvan (ou 29 de Kislev), mesmo nos anos em que Cheshvan (ou Kislev) tenha 30 dias.
    2. Se no ano seguinte ao falecimento o mês de Cheshvan (ou Kislev) for de 30 dias, o lortseit será no 30º dia (1º dia do Rosh Chodesh), e nos anos seguintes sempre no Rosh Chodesh (mesmo que seja de apenas 1 dia).

  • O lortseit de uma pessoa que faleceu no Rosh Chodesh Kislev (1º de Kislev) será sempre no Rosh Chodesh Kislev, e mesmo se Cheshvan (mês anterior) tiver 30 dias, o lortseit será no 2º dia de Rosh Chodesh (1º de Kislev).

  • O mesmo se aplica ao Rosh Chodesh Tevet; neste caso deve-se usar o dia do mês como critério, e não o dia de Chanucá correspondente, pois este pode variar quando o Rosh Chodesh for de 2 dias.

  • O lortseit de uma pessoa que faleceu no 1º dia do Rosh Chodesh do segundo Adar (ou seja, no 30º dia do primeiro Adar) será, num ano de 12 meses, no 1º dia do Rosh Chodesh Adar (ou seja, no 30º dia do mês de Shevat).
Visitas ao cemitério

Remonta à época dos Patriarcas o costume de visitar-se o túmulo dos familiares falecidos. Segundo a Cabalá, a alma do falecido é confortada, espiritualmente, quando seus filhos, familiares ou amigos vêm ao seu túmulo orar por ela e pelo seu repouso.

Deve-se entrar no cemitério trajado decorosamente, mesmo nos dias quentes do verão, com o devido respeito e senso de reverência, e com a cabeça coberta.

No primeiro ano após o falecimento, não se deve visitar muito o túmulo, mesmo que para orar pela ascensão da alma.

Além das visitas no 7º e 30º dias e no dia que completar 12 meses, costuma-se visitar o túmulo dos falecidos na data anual do falecimento (Iortseit), na véspera de Rosh Hashaná e na véspera de Iom Kipur.

É costume abster-se de visitar o cemitério nos dias em que as preces de súplicas (Tachanun) não são recitadas52. Mesmo nas exceções, a prece rememorativa EI Malê Rachamim (“Ó Deus, que é pleno em misericórdia...”) é omitida.

Uma pessoa que não visitou um cemitério judaico há 30 dias, deve recitar a bênção “Asher iatsar etchem badin” (ver pág. 14).

Quando se visita um túmulo no 7º e 30º dias, no dia em que completar 12 meses, e no dia do lortseit, é costume recitar os Salmos 33, 16, 17, 72, 91, 104, 130 e as estrofes alfabéticas do 119 que compõem a palavra Neshama (alma) e o nome do falecido. Se houver 10 pessoas próximas ao túmulo, recita-se o Cadish (caso contrário, não) e a prece rememorativa EI Malê Rachamim (“Ó Deus, que é pleno em misericórdia...”).

Ao visitar-se um túmulo, nas outras ocasiões, costuma-se colocar (e não apoiar) a mão esquerda (e não a direita) sobre a lápide e dizer:

Venachachá Adonai tamid, vehisbia betsach’tsachot nafshêcha, veatsmotêcha iachalits, vehayita kegán ravê uchemotsá máyim, asher lo iechazvú meimav. Uvanu mimechá chorvot olam, mosdê dor vador tecomem, vecore lechá goder pérets meshovev netivot lashávet. Tishcav beshalom ad bo menachem mashmía shalom.

E o Eterno te guiará continuamente, e fartará a tua alma mesmo na estiagem; teus ossos fortalecerá e serás como um jardim bem irrigado e como um manancial abundante, cujas águas não diminuem. De ti reconstruirão os destroços do mundo; os alicerces eternos Ele erguerá e chamará a ti de reparador das brechas. Repousa em paz, até a vinda do consolador, que prenunciará a paz.

É louvável recitar Salmos e destinar fundos à caridade em nome do falecido. O Cadish só pode ser pronunciado quando na presença de 10 pessoas nas proximidades do túmulo.

Não se deve visitar o mesmo túmulo 2 vezes no mesmo dia. É costume acender velas ao lado do túmulo em intenção da alma do falecido. Antes de afastar-se, é costume colocar uma pedrinha em cima do túmulo (flores, não).

À saída do cemitério, deve-se lavar as mãos da forma ritual (ver pág. 18).

Cohen

É proibido a um Cohen, descendente da tribo sacerdotal, entrar em contato com um morto, e assim, impurificar-se. Esta proibição não se refere apenas ao contato físico, como também à presença em recintos onde há um morto presente, independentemente do tamanho do recinto. Todos os outros recintos ligados por aberturas ou passagens estão incluídos nesta proibição.

Depois de removido o corpo do recinto ou do prédio, o Cohen pode entrar neles, porque o “espírito da impureza” se afasta junto com o corpo.

Se, estando em seu apartamento, vier a saber que há em outro apartamento um morto, deverá fechar as portas e as janelas do seu e sair apenas depois da remoção do falecido do prédio.

Mesmo sob céu aberto, um Cohen não pode aproximar-se de um túmulo a uma distância menor do que 2 metros; é por esse motivo que os Cohanim são enterrados nas primeiras fileiras do cemitério e esquinas.

O Cohen não pode entrar em um velório, nem na Bêt Tahará (Casa de Purificação), onde o corpo é lavado e purificado, nem nas salas adjacentes.

O Cohen deve seguir as leis e restrições de luto normais para os mesmos 7 parentes que as demais pessoas, ou seja, pai e mãe, filho e filha, irmão e irmã (de parte de pai ou mãe) e esposa.

Quanto a impurificar-se, o Cohen tem esta obrigação apenas e exclusivamente para com os seguintes parentes: pai e mãe, filho e filha, irmão e irmã solteira da parte do pai, e esposa.

As restrições relativas à impurificação do Cohen referem-se tão somente aos homens, e não à mulher ou filhas de um Cohen.

Preces rememorativas

O costume de reverenciar a memória dos mortos, através de preces e de bons atos, como o cumprimento de mitsvót e o estudo da Torá, visa proporcionar à alma do falecido méritos que a façam ascender nos “degraus” da santidade espiritual.

Quando oramos, devemos pedir piedade a Deus pelos mortos, para que tenham expiação (Capará) e perdão, e também pelos vivos, a fim de que, pelo mérito dos mortos, Ele nos conceda misericórdia, paz e bem-estar.

Segundo a Tradição, esta reza é bem recebida por Deus, em favor dos vivos e dos mortos, quando acompanhada pela caridade praticada naqueles dias.

Por este motivo, o próprio texto das preces já preconiza que será destinado um donativo à caridade em nome da alma rememorada (“... porquanto comprometo-me... doar caridade em seu favor...”).

Segundo a Cabalá, quando se rememora um falecido, a alma deste desce do lugar de repouso e não volta até que se tenha pago o donativo feito em seu nome. Por isso, deve-se saldar esse compromisso logo no dia seguinte, sem nenhuma demora.

São duas as preces rememorativas: EI Malê Rachamim e Yizcor.

Nessas preces, intercala-se o nome hebraico do falecido/a e sua filiação paterna (os sefaradim usam a filiação materna na “Hashcavá”), e elas devem ser recitadas em hebraico.

Embora o ideal seja recitá-Ias na presença de 10 pessoas, é permitido recitá-Ias individualmente.

Um marido pode rezá-Ias por sua esposa falecida mesmo depois de casado novamente. Pode-se rezá-Ias também por um suicida.

El Malê Rachamim

A prece EI Malê Rachamim (“Ó Deus, que é pleno em misericórdia...”) costuma ser recitada após o enterro, no 7º e no 30º dias após o enterro, ao término dos 12 meses, no dia do lortseit (data anual do falecimento), e depois da prece Yizcor. Nos dias em que as preces de súplicas (Tachanun) são omitidas, esta prece não é recitada53.

Yizcor

Em quatro ocasiões no ano recita-se Yizcor: no oitavo dia de Pêssach, no 2º dia de Shavuót, em Iom Kipúr e em Shemini Atséret, mesmo que essas datas coincidam com o Shabat.

Nesses dias, é costume acender uma vela, ou uma lamparina de azeite, que fique acesa por 24 horas, para cada alma que venha a ser rememorada. A vela deve apagar-se por si só.

Quem acender em casa, deverá fazê-Io preferivelmente na véspera; quem esqueceu, poderá acendê-Ia na sinagoga no próprio dia, desde que usando uma outra chama, que tenha sido acesa antes do início do Iom Tov. Se for Shabat, deverá trazer as velas à sinagoga na véspera, pois é proibido transportar (inclusive o Talit ou o Sidur) por vias públicas no Shabat. Se esqueceu, deve acendê-Ias em casa, antes das velas de Shabat.

No Iom Kipúr, deve trazê-Ias e acendê-Ias necessariamente na véspera, antes das velas de Iom Kipúr e do Col Nidrê, tanto em casa como na sinagoga. Se esqueceu, deverá acendê-Ias em outro dia qualquer e não acendê-Ias profanando a santidade do Iom Kipúr.

No caso de uma “vela elétrica”, em qualquer dos casos deverá acendê-Ia na véspera do Iom Tov ou do Iom Kipúr ou do Shabat, antes das velas daquele dia.

É costume que, quem tem pais vivos, retire-se da sinagoga na hora em que recita-se Yizcor, para não presenciar a aflição dos que sofreram uma perda e para evitar o mau-olhado.

O enraigado costume de que os enlutados, dentro dos 12 meses, devem retirar-se também da sinagoga (pois podem vir a perder o controle emocional e atrapalhar os demais) é questionado por muitas autoridades religiosas. Alguns sustentam que, pelo contrário, para a alma do falecido é um benefício rememorá-Ia dentro dos 12 meses! Outros sugerem que permaneçam na sinagoga, mas não recitem a prece, e outros, para evitar que se polemize dentro da sinagoga, sugerem que retirem-se mas rezem Yizcor no lado de fora.

Notícia com atraso

Uma pessoa que recebe com atraso a notícia do falecimento de um dos 7 parentes, pelos quais deve observar as leis de luto, a Shivá e suas leis passam a vigorar naquele momento. Se o resto da família ainda estiver no meio do período da Shivá, ela pode juntar-se a ela (mesmo que tenha de viajar para tanto) e “levantar-se” da Shivá no mesmo dia que os outros membros da família. Caso não possa juntar-se aos outros, ou se a Shivá já tiver terminado, mas não se passaram 30 dias do falecimento, o dia da notícia é contado como primeiro dia da Shivá para ela.

Neste caso, deverá rasgar uma roupa (Keriá), não colocar os Tefilin neste dia, fazer a “refeição do consolo” (Seudat Havraá) e cumprir todas as restrições da Shivá. O período de Sheloshim terminará ao amanhecer do 30º dia após ter recebido a notícia, mas os 12 meses serão contados a partir do dia do falecimento.

Se o dia em que receber a notícia for Shabat, ele será contado como o primeiro dia; a Keriá, entretanto, fará no sábado à noite; porém, se o Shabat (ou o Iom Tov) for o 30º dia, no sábado à noite já será o 31º dia e a observância será como se recebesse a notícia após o 30º dia (ver a seguir).

Se a notícia do falecimento for recebida depois do 30º dia após o falecimento, não se observará a Shivá. O enlutado apenas precisa tirar os sapatos e sentar-se numa cadeira baixa durante alguns minutos, recitar a bênção “Juíz da verdade” (ver pág. 15) e com isso dá-se por encerrada a observância simbólica do luto. Se o falecido for um de seus pais, deverá rasgar suas roupas (Keriá), e não cortar os cabelos, unhas e barba por 30 dias, observar o período de 12 meses (a contar do falecimento) e recitar o Cadish até completar 11 meses do falecimento.

Se a notícia do falecimento for recebida depois dos 12 meses, deverá rasgar suas roupas (Keriá) e “sentar-se” por alguns minutos, apenas por seus pais; pelos demais parentes, não há qualquer observância.

Uma pessoa que não ficou sabendo do falecimento de um familiar seu, não é necessário avisá-Ia; se ela perguntar por ele, não se deve mentir e dizer que está bem, nem dizer que ele morreu; deve-se fazer a pessoa entender indiretamente que ele não mais se encontra entre os vivos.

Não obstante, deve-se procurar uma forma de fazer chegar esta notícia ao conhecimento dos filhos homens do falecido para que possam recitar o Cadish em intenção da sua alma.

Interrupção do luto

As Festas Judaicas bíblicas interrompem e anulam um dos períodos de luto. Por Festas (ou Iom Tov) , nesse contexto, estão incluídas: Pêssach, Shavuót, Sucót, Shemini Atséret, Rosh Hashaná e Iom Kipúr54. A razão, segundo a Cabalá, é que as Festas anulam o “veredito celestial” sobre a alma.

Ou seja: uma pessoa que estava observando, por exemplo, o 3º dia do período de Shivá e chegou um Iom Tov, a Shivá é encerrada (mesmo faltando 4 dias) e, após o Iom Tov, a pessoa já estará nos Sheloshim (2º período). O mesmo ocorrerá se a pessoa cumpriu por pelo menos alguns minutos uma das observâncias da Shivá, como tirar os sapatos, antes da entrada do Iom Tov; nesse caso, a Shivá será interrompida e encerrada (mesmo faltando 6 dias) e a pessoa poderá, até mesmo, banhar- se antes do Iom Tov.

Mas se o enlutado não cumpriu sequer uma observância de luto antes do Iom Tov, seja qual for o motivo (exceto doença), ou porque não houve tempo antes do Iom Tov, ou porque só ficou sabendo do falecimento no próprio Iom Tov ou depois dele, depois da Festa será necessário observar o luto normalmente;55 durante a Festa, deverá observar as proibições de caráter íntimo (relações conjugais, banho etc.).

À exceção do luto pelos pais, o mesmo sucederá com o período de Sheloshim (trinta dias). Uma pessoa que “Ievantou- se” da Shivá no 7º dia e entrou, portanto nos Sheloshim - se naquele dia, ao entardecer, for Iom Tov, as observâncias dos Sheloshim serão interrompidas (mesmo faltando 23 dias) e o enlutado poderá cortar o cabelo, aparar as unhas e barbear-se alguns minutos antes do Iom Tov.

Em caso de luto dos pais, é sempre necessário contar efetivamente 30 dias para o término dos Sheloshim em qualquer hipótese.

A seguir, o detalhamento, caso a caso, de como as Festas interrompem e reduzem o período de Shivá e Sheloshim, quando cumpriu-se, por apenas alguns minutos, pelo menos uma das observâncias da Shivá:

  • Pêssach – Os poucos minutos (ou dias) cumpridos valerão por 7 dias; com mais 8 dias de Pêssach (= 15); restarão 15 dias após o Pêssach para completar os Sheloshim.* Se já havia terminado a Shivá, os Sheloshim estarão encerrados logo após o meio-dia, e deverá cortar o cabelo e barbear-se mesmo antes do meio-dia.*
  • Shavuót – Os poucos minutos (ou dias) cumpridos valerão por 7 dias; os 2 dias da Festa valerão por 8 dias (= 15); restarão 15 dias após Shavuót para completar os Sheloshim.* Se já havia terminado a Shivá, os Sheloshim estarão encerrados alguns minutos antes da entrada do Iom Tov.*
  • Rosh Hashaná – Os poucos minutos (ou dias) cumpridos valerão por 7 dias; depois dos 2 dias de Rosh Hashaná, deverá cumprir as observâncias de Sheloshim por 7 dias, até algumas horas antes da entrada do Iom Kipúr, quando poderá cortar o cabelo e barbear-se,* pois os Sheloshim estarão encerrados. Se já havia terminado a Shivá, os Sheloshim estarão encerrados alguns minutos antes da entrada do Iom Tov.*
  • Iom Kipur – Os poucos minutos (ou dias) cumpridos valerão por 7 dias; depois do Iom Kipúr, cumprirá as observâncias de Sheloshim por 4 dias, até alguns minutos antes da entrada do Iom Tov,* pois os Sheloshim estarão encerrados. Se já havia terminado a Shivá, os Sheloshim estarão encerrados algumas horas antes da entrada do Iom Kipúr, quando poderá cortar o cabelo e barbear-se.*
  • Sucót – Os poucos minutos (ou dias) cumpridos valerão por 7 dias; com mais 7 dias de Sucót (= 14); com mais 7 dias de Shemini Atséret (= 21); e com mais 1 dia de Simchat Torá (= 22), restarão 8 dias para completar os Sheloshim.* Se já havia terminado a Shivá, os Sheloshim estarão encerrados alguns minutos antes da entrada do Iom Tov.*

  • * Exceto em caso de luto por seus pais, quando é necessário contar efetivamente 30 dias.
Observações:

Se, nos casos acima, o enlutado não cortou o cabelo ou barbeou-e na véspera do Iom Tov, não poderá fazê-Io no Chol Hamoed (dias intermediários de Pêssach e Sucót), mas somente após o término de toda a Festa. A exceção fica para o caso em que o 7º dia venha a cair no Shabat e no domingo seja Iom Tov; como no Shabat não é permitido cortar o cabelo ou barbear-se, o enlutado poderá fazê-Io durante o Chol Hamoed.

Uma pessoa que veio a saber durante um Shabat, que caiu na véspera de um Iom Tov, que há exatos (ou menos de) 30 dias faleceu um dos 7 parentes pelos quais deve observar as leis de luto, como as observâncias de caráter íntimo de luto passaram a vigorar sobre ele, o Iom Tov interromperá e anulará a Shivá.

Em todos os casos em que uma Festa interrompeu ou reduziu a Shivá ou os Sheloshim, a visita ao cemitério que se faz nessas ocasiões deverá ser feita tão logo seja permitido visitar o cemitério, mesmo que não se passaram 7 ou 30 dias do enterro.

A vela que costuma-se manter acesa por 7 dias em memória do falecido deverá arder por 7 dias efetivos, mesmo que a Shivá tenha sido interrompida.

BREVE RESUMO DAS LEIS DO LUTO JUDAICO - Copyright © 1993, 2006, 2016 by Jairo Fridlin